Francisco Silva é o presidente da Associação PALEO XXI e esteve à conversa connosco para explicar a filosofia paleo. Sabe o que é?
Em primeiro lugar, gostaríamos de perguntar-lhe em que consiste a Dieta Paleolítica.
Há um princípio teórico que deve orientar qualquer um que siga um estilo de vida Paleo: tentar imaginar como seriam as rotinas de um ser humano que viveu no período paleolítico, ou seja, há cerca de dois milhões de anos. Claro que isto presta-se imediatamente a piadas, dúvidas, incertezas, etc. Mas acaba por ser fundamental termos como alicerce esta lógica ancestral, pois permanece válida para percebermos como funciona a nossa genética e, consequentemente, quais serão as respostas naturais do nosso corpo.
Há duas grandes correntes que se popularizaram nos Estados Unidos: a PALEO e a PRIMAL. A primeira mais fechada e mais dogmática, a segunda mais moderna e equilibrada. Por exemplo, na PRIMAL é facilmente admitido que mesmo produtos que venham de uma indústria possam ter interesse se forem constituídos por bons ingredientes e não houver evidências fortes de que são maus para a saúde. Claro que isto é algo relativo… por isso, não gostamos de chamar “dieta paleo” ou “dieta primal”, mas antes estilo de vida ou filosofia, em que cada um é cobaia de si mesmo e deve tentar entender os sinais que o seu corpo dá ao ingerir determinados alimentos. O nosso modelo PALEO XXI tem como base a filosofia PRIMAL, de Mark Sisson.
“Paleolítico” refere-se ao período anterior à descoberta da agricultura, correto? Que regime alimentar é que propõe então?
Em termos de alimentação, sabemos que não existiam produtos fabricados, industriais, sabemos que os açúcares eram escassos e que o Homem era caçador e recolector, vivendo numa harmonia natural – e selvagem – com outras espécies. Assim é fácil concluirmos que: animais terrestres e marinhos, plantas e raízes, sementes, frutos selvagens e frutos secos seriam a base da alimentação durante esse período da existência humana em que evoluímos de um modo incrível, com este combustível otimizado para a nossa genética. É muito fácil percebermos que a base da alimentação do Homem nunca poderá ser à base de açúcares e farinhas (hidratos de carbono).
Que benefícios traz este tipo de alimentação?
O nosso corpo é uma máquina fantástica, dotada de um conjunto super-complexo de mecanismos, alguns ainda não totalmente conhecidos. O que ele tenta fazer é adaptar-se ao meio e minimizar estragos. Pensemos no exemplo de um automóvel: se lhe colocarmos o melhor combustível, o motor irá ter melhor desempenho. Se num carro movido a gasolina misturarmos, aos poucos, gasóleo, o motor vai danificar-se! A curto… médio… longo prazo, depende do grau de contaminação e da própria utilização do veículo. Pois é o que temos estado a fazer ao nosso corpo: oferecer-lhe alimentos cada vez piores! Menos nutritivos, mais artificiais, manipulados e aditivados. Que corpo não beneficiaria de uma alimentação que o respeita?
A sugestão que deixo, e que não oferece nenhum tipo de risco, é que as pessoas tentem seguir esta lógica alimentar durante 30 dias (depois de se informarem bem do que defende e do que recomenda). Façam-no como uma experiência! E vão sentir, por si, como o corpo vai reagir bem e se vão sentir melhor, para além do mais ansiado pela maioria: a regularização do peso.
O grupo de Facebook Paleo Descomplicado tem como mote principal desmistificar este tipo de alimentação?
A criação do grupo de Facebook Paleo Descomplicado surge precisamente por eu achar que em Portugal não existia nenhum grupo/movimento que satisfizesse a minha necessidade de trocar experiências com pessoas que, fazendo uma alimentação estilo paleo, não fossem presas a listas pré-definidas e a verdades dogmáticas. O nome que então escolhi (em novembro de 2014) tem esse significado: no fundo é uma lógica simples, nada complicada. Complicamos quando queremos introduzir produtos alimentares modernos. E é aí que as pessoas precisam de mais ajuda.
Neste momento, quantas pessoas seguem o grupo e que tipo de informações têm disponíveis para os vossos seguidores?
Temos nesta altura mais de 410 mil membros no Grupo Paleo Descomplicado! O grupo é muito dinâmico, com receitas, dicas e exemplos a todo o momento. Mas somos muito mais do que isso! Constituímos a Associação PALEO XXI, uma associação sem fins lucrativos, que nos permite andar pelo país e junto das comunidades emigrantes promovendo eventos de divulgação e convívio. Temos um livro escrito por mim e por dois nutricionistas que me apoiam (em venda direta), temos a Revista PALEO XXI nas bancas nacionais (e que também enviamos para fora de Portugal) que procura abordar várias temáticas (alimentação infantil, animal, psicologia, nutrição, receitas, naturopatia, exercício, entre outros), temos várias páginas de Facebook (da associação, revista, Kids XXI, Pets XXI…), temos o nosso canal de Instagram, com a nova Instagram TV, onde publicamos diariamente vídeos com conteúdos vários. Temos ainda alguns profissionais que trabalham connosco e oferecem benefícios aos associados. Aliás, temos já também um conjunto de empresas que se associaram a nós, dos mais variados ramos, a oferecer descontos e a mostrar os seus produtos dentro do conceito. Enfim, vamos colaborando e ajudando quem nos procura para podermos, em conjunto, espalhar este conceito e alargar esta família.
Afinal de contas, o que deve e o que não se deve comer para seguir esta filosofia Paleo? Dê-nos exemplos.
Tal como atrás referi, agora concretizando e adaptando aos dias de hoje, lembrando que devemos escolher a melhor origem possível: ovos, peixe, carnes, mariscos, legumes e tubérculos, frutos e frutos secos, sementes e especiarias.
O que devemos evitar: açúcar refinado (diminuindo o uso de açúcares naturais também), farinhas de cereais, especialmente aquelas com glúten, proteína inflamatória e associada a problemas de permeabilidade intestinal e produtos e alimentos aditivados com aromas artificiais, intensificadores de sabor, adoçantes, conservantes, corantes e outros aditivos que não sejam essenciais e seguros.
Dentro destas gamas referidas, cada um é livre de viver como bem entende, correndo os seus riscos, mas de modo consciente! E não com aquela velha máxima de que “um pouco de tudo é saudável”. Não. Não é. Isso é um erro grave! Nesse “um pouco de tudo” há muita coisa que o corpo vai ter dificuldade em gerir, e isso enfraquece-nos!
Como analisa a recetividade da comunidade portuguesa a este conceito?
Tem sido incrível! O grupo cresce a um ritmo de cerca de dez mil novos membros por mês! Onde vamos somos recebidos como família! As pessoas oferecem-nos a sua comida, as suas casas! Pedem-nos que voltemos ou que visitemos as suas cidades. Muitos repetem a presença em sessões de esclarecimento, outros tornam-se parte das equipas de apoio nos eventos. E temos tido resultados incríveis a nível de perda de peso! Numa sondagem que fizemos no grupo, apurámos um valor (por defeito) de cerca de 35 toneladas já perdidas por 4000 pessoas que responderam! Isto vai representar um ganho imenso na saúde de muitos!
Podemos pedir-lhe uma receita para mostrar aos nossos leitores de que tipo de refeição estamos a falar?
Ficam convidados a visitar o nosso site www.paleoxxi.com (onde encontrarão algumas receitas) e a aderir ao nosso grupo Paleo Descomplicado, no Facebook, onde diariamente terão muitas mais receitas, mas uma refeição paleo é algo bem simples e pode, sem preocupações extremas, ser feita em qualquer restaurante! Um exemplo que deixará qualquer um bem saciado e nutrido, com boas gorduras, proteína e hidratos de carbono de qualidade: secretos de porco ibérico grelhados, um “esparguete de curgete” ou uma salada, um copo de vinho tinto ou de água, azeitonas, café e uma fruta ou um brownie de chocolate. Acham que com isto não se perde peso? Venham tentar entender a PALEO XXI e verão que sim!
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