Vancouver, 2010. Jogos Olímpicos de Inverno, a segunda edição no Canadá. Nesta edição, o Canadá bateu o record de medalhas de ouro conseguidas por um país nas Olimpíadas de Inverno (record esse que é hoje partilhado com a Alemanha e Noruega após a última edição em Pyeongchang, 2018) – 14 medalhas de ouro, conseguindo o dobro da edição anterior.
Porque é importante este momento no desporto mundial, neste caso em particular para o Canadá? O que mudou para as outras edições?
Os atletas canadenses usaram uma nova ferramenta para otimizar as suas performances desportivas – a Recalibração Postural Global.
Muitas vezes em “conversas de café” ou em contexto de consulta, comparo os atletas aos carros de Fórmula 1 – têm de estar perfeitos para conseguirem ter um rendimento desportivo de excelência. E como podemos ver pelo exemplo do Canadá, isso é mais verdade do que parece.
Num estudo que estou a realizar sobre as assimetrias entre os membros inferiores, constatamos que na nossa amostra encontramos assimetrias na ordem dos 8 a 18% na produção de Força. Apesar de na literatura internacional se aceitar desequilíbrios até 10% – muitas vezes explicados pela lateralidade do atleta, mas principalmente pela modalidade que pratica (basta olhar para os corpos dos tenistas) – estes desequilíbrios provocam grandes alterações/adaptações posturais que com o tempo limitam cada vez mais a performance do atleta, já para não falar sobre os problemas de saúde e qualidade de vida após a carreira desportiva.
Voltando ao exemplo do ténis, é comum discutir-se que alguma assimetria até pode ser saudável para a performance do atleta – é natural que um tenista destro tenha um lado direito mais desenvolvido – apesar de existir esta visão, não é essa a nossa opinião.
No nosso estudo, após uma recalibração postural global, para além de conseguirmos reduzir as assimetrias na produção de Força para 0,1% entre membros, a produção de Força do atleta fica superior em ambos os membros relativamente ao período pré recalibração postural. Ou seja, um corpo equilibrado consegue produzir mais força do que um corpo desequilibrado. E isto tem implicações diretas no rendimento desportivo do atleta, na prevenção de lesões e na posterior qualidade de vida.
Mas como é que isto funciona?
O sistema postural é um sistema complexo que envolve diferentes estruturas do sistema nervoso central e periférico que estão em constante adaptação ao meio exterior, sistema este que permite à pessoa se equilibrar e se situar no espaço. O campo de estudo da Posturologia são as consequências sobre o sistema propriocetivo associadas às posturas erradas quando realizadas de forma sistemática.
O método de trabalho é baseado em encontrar desequilíbrios a nível estrutural e biomecânico através de uma série de testes diferenciados focados nos principais captores da informação exterior: pés, olhos, pele e sistema tempero-mandibular.
Ao longo do tempo, estes desequilíbrios podem desencadear uma série de adaptações do sistema postural. O nosso corpo tenta, em primeiro lugar, compensar (através de rotações, lateralizarão pronunciada, limitação de movimento, etc.), no entanto, esta compensação é apenas temporária dando depressa lugar a sintomas como a dor crónica, dor lombar, dor nas articulações, oclusão dentária anormal, dislexia, dificuldades de aprendizagem, etc.). Estes sintomas levam a uma vida limitada e, no caso dos atletas, também a rendimentos desportivos inferiores.
A Postura e a Performance Desportiva andam lado a lado quando queremos atingir rendimentos desportivos de excelência. É como um carro de Fórmula 1, todas as partes têm de estar perfeitamente alinhadas para conseguir a perfeição desportiva – e qual é o atleta que não quer isso?