Sabem aquela música que gostamos muito inicialmente, mas depois ouvimos na rádio tantas vezes ao dia que passamos a desvalorizar? Pois, o que me parece é que a palavra ‘natural’ assumiu essa melodia repetida que nos faz querer mudar de estação.
Enquanto médica-naturopata perguntaram-me o que é a Naturopatia e, sim, quero dizer-vos o que é, mas aquilo que vos quero explicar melhor é exatamente aquilo que NÃO é esta área da Medicina.
Certamente por experiência própria já terão tido a oportunidade de serem atendidos por bons e maus profissionais da área da saúde, certo? Na Naturopatia não é diferente, mas com a agravante de existir rara formação certificada. Podem ser naturopatas via diploma made in internet com formação de um mês ou então médicos-naturopatas com formação de quatro anos concorrentes à primeira licenciatura nacional na área. Aos olhos da lei nada difere em termos de prática clínica, aos olhos das pessoas tudo dependerá da sorte de apanharem um bom profissional, bem formado na área (que mesmo assim pode ser mau, claro. Não vamos esquecer a quantidade de profissionais de saúde com canudo que não passam de figurinos negligentes. Nunca conheceram nenhum? Ótimo!).
Não, não é bruxaria. Também não usamos ervinhas para curar o cancro.
A Naturopatia tem o seu enfoque na prevenção, no tratar a causa e não o sintoma. É preciso conhecer o corpo na sua globalidade para podermos perceber o porquê da manifestação da doença, seja ela qual for. Por exemplo, se os valores de colesterol estão elevados é preciso perceber porquê: será que causamos dano nos vasos sanguíneos e o corpo precisa de produzir mais desta substância para os proteger? O que causou o dano? Estará o fígado a produzir colesterol em excesso porque a alimentação é pobre em gorduras essenciais? Será eficaz inibir a produção de colesterol sabendo as inúmeras funções que desempenha? Perguntas e respostas variam de caso para caso. O que nunca pode variar é o questionar e relacionar manifestações, sintomas, genética, etc. e a Naturopatia procura interligar tudo isto para poder facultar ao corpo a ‘matéria-prima’ de que carece para que funcione na perfeição!
Como estamos acostumados a ir ao médico apenas se estivermos doentes, a prevenção acaba por fazer um bocado de confusão às pessoas. Digo isto pois os que me chegam, chegam doentes e só assim me chegam, mas, aos poucos, vamos sensibilizando para uma atitude preventiva.
Já o meu grande mentor, Prof. Doutor António Marcos, dizia: “as pessoas só irão recorrer aos vossos serviços depois de irem a todos os médicos e isso não resultar, mas não se enganem, mesmo assim, antes irão a Fátima a pé e só depois a vocês”. Não tenho nada contra Fátima, mas preferia que viessem antes e assim talvez os pudesse ajudar na longa e dura caminhada que, bem organizada, só traz benefícios ao corpo e à alma dos que a percorrem.
Dentro desta área foi a medicina ortomolecular – área específica de formação dos médicos-naturopatas – que me levou inicialmente a fazer quatro anos de formação.
A interação da nutrigenómica com o genoma humano a nível molecular, celular e sistémico traduziu-se num objeto de estudo muito importante para mim: o porquê de certas patologias estarem massivamente presentes na nossa população.
Desde excesso de peso, osteoporose, diabetes, reumatismo, alergias, colesterol elevado, hipertensão, intolerâncias, problemas de pele, doenças autoimunes a questões oncológicas, tudo tinha um denominador comum: a alimentação.
Hoje em dia estamos, felizmente, assoberbados de informação sobre o que é saudável e o que não é. O grande problema é que nem todos os ditos ‘alimentos saudáveis’ são adequados a toda a gente e a informação não é válida e aplicável em toda a gente.
Cada um tem um perfil único, enzimático, genético, hormonal, etc. Para além disto carregamos cá dentro anos de excessos e danos que alteram todo o nosso comportamento metabólico. É preciso consciencializar a conhecer estes problemas, tratar individualmente e começar a procurar respostas a estas questões.