Diz ser uma lisboeta apaixonada pelo mundo, pela culinária, pela vida. Apesar de considerar o seu percurso relativamente mutável, há uma característica que a acompanha desde sempre: a macrobiótica – não fossem os seus pais, Francisco e Geninha Varatojo, os fundadores do Instituto Macrobiótico de Portugal.
A propósito do lançamento da quinta edição do Livro de Cozinha da Marta, falamos com Marta Horta Varatojo que nos abre as portas para o mundo da macrobiótica, explicando-nos, de uma forma simples e concreta, o quanto a frase “somos o que comemos” ganha um sentido cada vez mais literal.
A 5ª. edição do seu livro chega a 5 de agosto, repleta de novas receitas saudáveis, conscientes e deliciosas. A autora aproveitou para partilhar alguns dos seus truques de culinária, assim como dicas essenciais quanto a produtos ou utensílios, sugestões de menus completos e, ainda, reflexões importantes acerca de temas que prometem mudar a forma como encaramos a alimentação.
Gostaríamos de começar por pedir à Marta uma breve apresentação sua. Sabemos que foi por volta de 2009 que se dedicou à culinária (profissionalmente), mas como é que começou o seu percurso? Sempre foi uma área que lhe interessou?
A macrobiótica esteve sempre presente na minha vida. Os meus pais trabalham nesta área há mais de quarenta anos e foi com eles que aprendi tudo o que sei sobre macrobiótica. O meu pai era um dos melhores especialistas nesta área e a minha mãe uma cozinheira extraordinária e professora de culinária também. Só comecei a cozinhar quando saí de casa, sempre acompanhada do livro da minha mãe, o Macro Apetite, que explorei de uma ponta à outra – é a minha bíblia da culinária. Apesar de sempre ter posto em prática os princípios que aprendi em casa, nunca pensei dedicar-me profissionalmente a esta área, mas, numa altura em que estava sem trabalho, comecei a dar algumas aulas de culinária particulares, depois para grupos maiores e fui ganhando prática e gosto. Foi um processo muito natural. A culinária transformou a minha vida, ensinou-me a ser mais organizada, mais centrada, mais paciente. Fez-me crescer na direção certa.
Os pais da Marta são os fundadores do Instituto Macrobiótico de Portugal, sendo que a Marta faz também parte da direção. Qual é a principal missão do Instituto?
A principal missão do Instituto é partilhar e desenvolver saberes relacionados com saúde e bem-estar, alimentação natural e estilos de vida mais saudáveis e ecológicos. O nosso foco é a área da formação e temos a decorrer diversos cursos anuais: Macrobiótica, Culinária, Shiatsu, Feng Shui, Chi Kung, Saúde Integral da Mulher, sendo todos eles certificados pela DGERT. Para além dos cursos, temos muitas outras atividades: workshops de culinária, consultas de orientação alimentar e estilo de vida, consultas para grávidas, bebés e crianças, consultas de Feng Shui, aulas práticas de Chi Kung, entre outras. Organizamos também o Festival Zimp – um evento de uma semana, na natureza, com atividades ligadas ao desenvolvimento pessoal e à saúde natural. O nosso objetivo é despertar a curiosidade para estas temáticas e disseminar a mensagem, para que todos juntos possamos fazer a diferença e criar um mundo mais saudável e consciente.
A Marta pode-nos fazer uma breve introdução ao mundo da macrobiótica? O que é que esta área nos ensina? O que é que distingue, em particular, a alimentação macrobiótica?
A macrobiótica não é apenas uma dieta, é uma filosofia de vida que nos oferece ferramentas preciosas para fazermos escolhas mais conscientes e responsáveis para nós e para o ambiente. Os nossos hábitos alimentares têm um impacto enorme na ecologia do nosso planeta e agora, mais do que nunca, é urgente agirmos e estarmos atentos a estas questões. Quando temos uma alimentação equilibrada e saudável tornamo-nos mais flexíveis e com uma sensação de maior conexão com a natureza. Na macrobiótica come-se aquilo que se considera ser biologicamente mais compatível com o ser humano. A base da alimentação macrobiótica são os cereais integrais, as leguminosas e os vegetais. Damos preferência a alimentos de origem vegetal, locais, sazonais, biológicos e não processados e devemos também ter em conta o estilo de vida e condição de saúde de cada um. “Somos o que comemos” é uma das frases que melhor caracteriza a macrobiótica e é mesmo literal: o que comemos transforma-se no nosso sangue, que vai banhar todas as nossas células, órgãos do corpo e sistema nervoso, responsável pela forma como percecionamos e interagimos com o meio à nossa volta. Costumo dar o exemplo do café, quando se bebe um café sente-se imediatamente o seu efeito no nosso organismo, é um estimulante e, portanto, ficamos mais despertos, ativos, criativos. Com os alimentos passa-se exatamente o mesmo. Cada alimento confere um determinado tipo de energia, simplesmente o seu efeito não é tão imediato como o do café. Desta forma, podemos escolher os alimentos consoante a forma como nos queremos sentir, mais ativos ou mais relaxados, e isso é fantástico. Na minha opinião, a alimentação é uma das ferramentas mais eficazes para criarmos uma verdadeira mudança interna, permitindo-nos alcançar o nosso verdadeiro potencial.
Em 2015, lançava o primeiro Livro de Cozinha da Marta. O facto de os seus pais serem também grandes autores de livros de culinária fez crescer a vontade de explorar estas temáticas através da escrita? Qual foi a maior motivação para lançar este livro?
Os meus pais são a minha grande inspiração e tive, desde o início deste projeto, todo o apoio deles. Com este livro quis mostrar que a macrobiótica é acessível a todos e que é muito mais fácil de praticar do que se imagina, para além de ser deliciosa.
Chegamos ao lançamento da 5ª. edição, que acontecerá a 5 de agosto. Há novas abordagens ou podemos encarar como uma continuação do trabalho que tem vindo a desenvolver?
Não tem propriamente novas abordagens, digamos que levou um upgrade. Esta edição foi revista e atualizada, tem cerca de 15 receitas novas e um artigo do meu pai sobre a mastigação, um hábito muito simples que traz imensos benefícios ao nosso sistema digestivo e ao sistema nervoso, também.
O que é que os leitores poderão encontrar nestas páginas? Considera que são receitas facilmente aplicáveis no dia a dia?
O livro tem uma abordagem acessível e apelativa. Gosto de comida caseira e de pratos coloridos com um ligeiro toque festivo. Neste livro, encontram mais de 100 receitas, umas mais complexas do que outras, claro, mas pelo feedback que tenho tido posso dizer com segurança que são receitas fáceis de seguir e de pôr em prática. É um livro bastante completo e contém imensa informação sobre a filosofia macrobiótica, as propriedades e benefícios dos diversos alimentos, sugestões de menus e muitas dicas e truques culinários. Acima de tudo, espero que este livro continue a inspirar pessoas a fazerem escolhas mais conscientes e que, de alguma forma, por mais subtil que seja, transforme as suas vidas para melhor.
Numa perspetiva de futuro, considera que a Macrobiótica será cada vez mais valorizada – em Portugal e no mundo? A Marta gostaria de explorar algo novo nesta área?
A macrobiótica tinha a fama de que a comida era pouco saborosa e a dieta muito rígida – e com algum fundo de verdade. Nos anos 60/70, a prática era mais radical, mas isso tem vindo a mudar e a abordagem é muito mais flexível agora. Há 10/15 anos, poucas pessoas sabiam o que era a macrobiótica, pelo que, atualmente, já não é um conceito completamente estranho e está a ganhar cada vez mais adeptos. O meu pai teve um papel fundamental nesta evolução, era um homem absolutamente apaixonado pela sua missão, uma pessoa muito especial. Levou a macrobiótica aos quatro cantos de Portugal e mais além. Neste momento, temos vários alunos a abrir centros e restaurantes, a dar consultas e aulas por todo o país. O meu pai continua a ser a nossa grande inspiração e o seu sonho está bem vivo e a florescer. Relativamente a explorar algo novo nesta área, tenho um sonho, sim. Neste momento, temos o nosso espaço, o Instituto Macrobiótico, no Chiado, em Lisboa, e gostava muito de ter também um Instituto no campo, com uma horta biológica e muita natureza, onde as pessoas nos possam ir visitar e aprender todas estas artes ancestrais.
Maria Inês Neto
Editora