Iniciar uma rotina desportiva: por onde começar?

Da mesma forma que a parte mais difícil de uma viagem é o começo, o passo mais difícil para iniciar uma rotina desportiva será certamente o início. Mas a ideia de atingir uma boa forma ou dos esforços que necessitam ser realizados podem parecer intimidantes. Lembre-se de manter as coisas em perspetiva, seja paciente, estabeleça objetivos e concentre-se no que precisa de fazer para os atingir.

Eis alguns passos ou considerações essenciais para começar:

1. Objetivo principal:

A ideia central é relacionar a prática de exercício com saúde e bem-estar. Ao contrário da prática do exercício para aumento da performance desportiva, aqui o objetivo principal é ter uma prática que melhore a sua aptidão física e mental, na busca pelo equilíbrio e segurança. Está, desta forma, patente uma lógica de construção e aquisição e não uma lógica de transgressão ou superação ilimitada.

Nesta onda, o praticante deve previamente realizar diversas opções, que são as variáveis com que vamos jogar para termos uma prática que seja exequível, motivadora e sobretudo que atinja os objetivos específicos que se pretendem. Aqui terá que se abordar, em conjunto com um profissional devidamente credenciando e com vontade de o ajudar, alguns fatores que sejam ideais para cada praticante: a escolha da melhor atividade ou modalidade, da frequência semanal, do local que irá frequentar, dos timings de treino e de descanso, das características internas da pessoa que vai iniciar o processo, entre outras. Tudo isto com o objetivo de proporcionar uma atividade que seja confortável para colocar “o exercício a trabalhar a seu favor”.

Objetivo secundário:

Nesta temática, mais dirigida a quem coordena as atividades, mas também de conhecimento crucial para quem inicia as mesmas, é necessário que o aluno tenha consciência que o exercício proposto:

• Deve ter em consideração que pessoas diferentes respondem de forma diferente aos mesmos estímulos de treino (princípio da individualidade);
• Deve tirar a pessoa da sua zona de conforto, de forma a criar adaptações (princípio da sobrecarga);
• Deve estimular áreas ou tarefas específicas do objetivo (princípio da especificidade);
• Deve deixar de induzir as suas mais valias quando é interrompido (princípio da reversibilidade);
• Deve aumentar progressivamente as cargas de trabalho (princípio da progressão). Neste último, alguma atenção, pois não necessitamos de melhorar constantemente, a manutenção pode já por si ser um progresso.

Traçar objetivos congruentes:

No caso específico das atividades que visam a promoção da saúde, os motivos que levam as pessoas à sua prática são, frequentemente, os mesmos que as levaram a não aderir ou a desistir das atividades físicas encaradas numa perspetiva de rendimento. É crucial compreender o motivo pelo qual se procura o exercício, se é numa perspetiva de wellness, recuperação, aparência, para libertar o stress, etc.

Como em tudo na vida, as pessoas desmotivam-se pela falta de metas, pelo insucesso no seu cumprimento ou pelo descrédito das suas possibilidades. No caso específico das atividades de fitness, a sensação da crescente limitação das capacidades físicas que acompanha o tempo de vida apresenta-se decisiva.

Não obstante a esta sensação, grande parte dos utentes procura traçar objetivos que, na sua maioria, são muito difíceis ou impossíveis de alcançar. Cria-se assim a primeira base do insucesso, já que o facto de não conseguir atingir metas gera desmotivação. Neste contexto, é fundamental que os objetivos traçados sejam realistas. É muito comum atribuir-se o insucesso ao programa elaborado quando, de facto, onde se errou foi na definição do(s) objetivos(s).

Depois, há que considerar os fatores externos presentes na vida do individuo. Não que os possa considerar limitadores, mas são, sem dúvida, influenciadores para tomar decisões equilibradas e que sejam menos stressantes. O tipo de trabalho, a distância ao clube desportivo ou ginásio (ou a ausência dos mesmos), as tarefas familiares, a vertente financeira, as condições atmosféricas, entre muitos outros fatores.

Acompanhamento:

Quem procura orientação sobre exercício físico deve procurar um profissional que reúna um conjunto de características, que passo a descrever. Primeiramente, deve ser um profissional que esteja devidamente credenciado, seja um forte conhecedor de outras áreas conjuntas, como a fisiologia, biomecânica e anatomia. Deve ser professor, ensinando, corrigindo, monitorizando, aperfeiçoando e não um mero transmissor e contador. E deve ter em conta os fatores mencionados anteriormente: a escolha de uma atividade equilibrada, exequível e motivadora. É muito importante que tenha conhecimento sobre a prática do exercício em específico, dos objetivos e dos fatores externos.

Esta escolha vai mais além do que uma escolha de amizade e empatia. Deve procurar a ajuda de um professor/profissional inteirado da sua situação e genuinamente preocupado consigo, com o intuito de o ajudar a atingir as suas metas.

Culmino esta minha rápida reflexão, dizendo que apesar da prática de exercício estar a crescer em Portugal (onde já se contam 5.4% de praticantes), ainda estamos muito longe dos 13% de Espanha e 15% de Inglaterra. Um dado positivo é que, de 2018 para 2019, aumentamos o número de praticantes em ginásios para um total de 61 mil. Outro dado, este já bastante negativo é que a taxa de desistência anual situa-se nos 65%, ou seja, todos os anos desistem 65% dos alunos ativos.

Profissionais como estes em cima descritos são difíceis de encontrar em Portugal. As condições de trabalho estão longe de ser aliciantes, para não dizer desagradáveis. Ainda assim, o fitness cresce, mas a qualidade não cresce ao nível da quantidade! Entretanto, sem melhores recursos humanos, os níveis de adesão continuarão baixos e os níveis de cancelamento altos.