Iara Rodrigues é nutricionista, mas a sua filosofia e o modo como encara a alimentação saudável abriram-lhe outras portas. É na sua cozinha que se sente verdadeiramente em casa e acredita que tudo de bom acontece à volta de uma mesa. De segunda a sexta-feira é a cara do canal 24Kitchen, em Naturalmente, onde nos ensina a transformar os nossos pratos em opções verdadeiramente mais saudáveis e variadas.
É no seu blog e nas respetivas redes sociais que partilha diariamente inúmeras dicas e receitas saudáveis, sendo ainda autora de três livros, intitulados por: A Dieta Simples (2012), Dieta 1,2,3 (2013) e Emagreça Sem Fome (2016). Em 2016 fundou a Clínica Iara Rodrigues, em Paço de Arcos, onde disponibiliza serviços, como: consultas de nutrição, nutrição materno-infantil, psicologia & coaching, medicina estética e osteopatia.
Foi mãe há pouco tempo e a sua vida ganhou, naturalmente, um novo sabor. Diz-nos que “para nos sentirmos bem e felizes, temos de estar em paz com o nosso corpo e que ele tem necessidades especiais”. Iara Rodrigues está em entrevista na U-FIT e fala-nos da sua filosofia, dos desafios que tem atualmente em mãos e os desejos para o futuro.
Gostávamos de começar esta entrevista por conhecer as suas raízes no mundo da alimentação saudável. Sempre teve cuidado com a alimentação?
A vida é feita de escolhas. E hoje acredito que uma das escolhas mais importantes que fazemos diariamente é a de cuidar da nossa saúde e uma maneira de o fazer é, sem dúvida, através do que comemos. A casa onde cresci, a casa dos pais, sempre foi uma espécie de viagem pelos sabores do mundo. Não sou portuguesa, embora seja uma “portuguesa” de coração. Sou natural da África do Sul, tenho nacionalidade espanhola, a minha mãe é da Venezuela (Caracas) e o meu pai é de Espanha (Madrid). Com tantas influências e culturas diferentes podem imaginar como era comer em minha casa.
Quando penso nisto, chego à conclusão de que definitivamente influenciou (e muito) a minha forma de comer, de ver os alimentos e as combinações, os cuidados que tenho e que em casa sempre existiram.
O que é que lhe despertou maior interesse para seguir a área da nutrição?
Costumo dizer que fui escolhida. Desde cedo que vi à minha volta o impacto que uma má relação com a comida pode trazer à vida das pessoas. Percebi que, para nos sentirmos bem e felizes, temos de estar em paz com o nosso corpo e que ele tem necessidades especiais.
Ser nutricionista nunca foi uma profissão. É a minha vocação e a minha forma de estar, de ser e de me relacionar com os outros. Sinto-me uma privilegiada por ter a oportunidade de participar ativamente na mudança de tantas vidas e tenho a bênção enorme de poder experienciar o efeito positivo do meu trabalho nessa mudança.
Enquanto nutricionista, qual é a sua filosofia?
Costumo comparar o papel do nutricionista ao de uma bengala. Aos meus pacientes habitualmente digo que, num processo de emagrecimento, sou uma bengala de apoio, mas que preciso das suas pernas para as coisas andarem e correrem bem. O nutricionista não é alguém que vai pedir-lhe que deixe de comer. Vai, sim, sugerir-lhe que tem de continuar a comer. Vai dizer-lhe para não abolir todos os hidratos de carbono ou as proteínas da sua alimentação.
Vai explicar-lhe os porquês e ensinar-lhe como e quanto comer, tirando prazer da refeição. No fundo, vai ensinar-lhe hábitos de alimentação saudável que poderá levar consigo para o resto da vida. Vai deixar-se de dietas e regimes temporários e passar a ver a sua alimentação e o seu bem-estar como parte integrante do seu dia a dia.
A minha filosofia é esta: fazer de uma alimentação saudável um estilo de vida e partir dele para ser mais feliz. É por isso que comparo o meu papel ao de uma bengala e é também por isso que trabalho com uma equipa multidisciplinar que olhará para os pacientes de uma forma holística, combinando corpo e mente e dando todo o apoio necessário ao longo desta caminhada.
Percebemos que procura promover a noção de (re)aprender a comer e encontrar um ponto de equilíbrio. Qual é a sua visão face a uma constante procura da sociedade em mudar os hábitos alimentares, sem um fundo de conhecimento do que é realmente melhor para cada pessoa?
A mudança de hábitos alimentares ou a manutenção da saúde implicam cedências. Mas ceder em alguns pontos não significa ter de deixar de comer tudo aquilo de que se gosta. O que proponho aos meus pacientes, como nutricionista, é que aprendam a comer e que encontrem o seu ponto de equilíbrio.
É verdade que algumas dietas restritivas ou à base de comprimidos milagrosos resultam, mas não mudam os hábitos alimentares a longo prazo. Pois ninguém vai, de certeza, passar o resto da vida a comer apenas sopa às segundas, fruta às terças e por aí adiante! Ninguém aguenta um regime restritivo para o resto da vida.
O segredo está na reeducação alimentar: aprender ou reaprender a comer de forma a alcançar o peso desejado e mantê-lo. Já para não falar do impacto que isso tem na nossa saúde e no bem-estar físico e emocional.
Podemos “entrar” na sua cozinha? Presumimos que é o seu local favorito da casa. O que é não pode faltar na sua cozinha?
Mais do que favorito, para mim a cozinha é um espaço fundamental numa casa. É onde se preparam as nossas refeições, mas, também, o local onde se preparam as refeições das pessoas de quem mais gostamos. Geralmente é na cozinha que antes de um jantar com amigos ou família as pessoas se reúnem e convivem. É à volta de uma mesa, tantas vezes situada nesta divisão da casa, que se têm as melhores conversas e onde acontecem as grandes decisões e momentos.
No ano passado, abriu a Iara Kitchen, um espaço onde realiza vários workshops, formações, eventos, entre outras vertentes. O que é que pretende dinamizar e proporcionar com este projeto? O que é que representa para si?
A minha cozinha, a Iara Kitchen, quer ser precisamente um local onde as pessoas se sintam em casa, onde possam conhecer novos alimentos e, devido a eles, um novo estilo de vida. É um espaço para aprender novas receitas, encontrar pessoas e aprender truques únicos para confecionar, com amor e dedicação, cada uma das refeições.
Esta cozinha não vai só originar novos pratos, aqui vão nascer novas pessoas e, com elas, novas vidas.
Não poderíamos deixar de perguntar, uma vez que foi mãe há pouco tempo: a sua vida ganhou um novo sabor? Como é que está a ser esta descoberta no mundo da maternidade?
A minha vida ganhou o melhor tempero do mundo: o Diogo! Ele tanto veio apimentar, como adoçar completamente a minha vida. Esta está a ser, de longe, a experiência mais intensa e incrível que alguma vez vivi.
É importante para si impor, desde cedo, hábitos alimentares mais saudáveis? Que cuidados procura ter com a alimentação do seu filho?
Sim, sem dúvida. O meu filho é um livro em branco e sou eu quem, para já, tem a responsabilidade de escrever o conteúdo que as páginas deste livro contém.
Futuramente, que projetos gostaria de explorar que não teve ainda oportunidade?
A restauração. É um caminho que se cruza regularmente com o presente, mas que ainda não o explorei.
10 perguntas de resposta rápida:
Um alimento ou ingrediente favorito?
O ovo.
Um utensílio que tem de estar sempre à mão numa cozinha?
Uma boa faca.
Um prato que cozinhe como ninguém?
Uma fritatta de espargos e tomate seco.
Há algum prato que não saiba cozinhar?
Tantos. Os tradicionais portugueses: feijoada, cabidela, rojões…
Uma refeição que nunca mais vai esquecer?
A refeição que mais me marcou na minha vida foi feita no Japão. A comida mais característica do Japão é servida nos restaurantes Ryotei, frequentados por homens de negócios. Na impossibilidade de conhecer um desses espaços elegantes do Japão, vivi, em alternativa, uma experiência incrível num dos hotéis onde fiquei. Vivi a 100% a experiência de ser japonesa: frequentei os onsen (as termas), vesti o quimono, assisti à cerimónia do chá e pude viver a essência de experimentar um jantar de luxo no Japão, o denominado Kaiseki. Um banquete (literalmente) composto de várias iguarias que em tempos se incluía na cerimónia do chá. A apresentação é sublime bem como a baixela em que é servida. Um exemplo de Kaiseki inicia-se com entradas e sopas e a seguir vários pratos, sejam ao vapor, fritos ou na chapa. Um simples prato de arroz põe fim ao banquete. Vai ficar para sempre na minha memória.
O alimento mais “estranho” que já provou? Repetia?
Um inseto… até repetia, mas teria de me mentalizar
Doces ou salgados?
Doces!!
Maria Inês Neto
Editora
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