Atualmente, somos invadidos a todo o momento pela publicidade aos melhores (super)alimentos do mercado. Existem versões isentas de glúten, light, detox ou com adição de nutrientes que prometem fazer milagres!
Seja porque queremos perder peso, para ganhar saúde ou, simplesmente, para andar na moda, acabamos muitas vezes por ir atrás de determinados produtos, sobrevalorizados pela indústria e pelos consumidores em geral. Na verdade, há nomes apelativos para todos os gostos. Falta mesmo é saber se os seus efeitos são assim tão interessantes como parecem!
Produtos light ajudam mesmo a emagrecer?
É frequente encontrar este termo em vários produtos, como batatas fritas ou refrigerantes. Basicamente, indica que existe uma redução de algum dos nutrientes, no mínimo em 30%, face ao produto dito original. Deve ser indicada na embalagem qual a característica que originou a utilização deste termo, mas nem sempre isto acontece. Ora, na maioria dos casos, a redução em termos calóricos é pouco significativa, até porque assistimos com muita frequência à redução de gordura, para vermos aumentada a dose de açúcar ou de sal, por exemplo. Portanto, muita cautela com estes títulos, que por vezes nos fazem acreditar que podemos comer à vontade!
Sumos naturais podem ser uma alternativa à fruta?
“Bebi um sumo de laranja ao pequeno-almoço, mas era natural!” Este sumo até pode ser preparado com as laranjas do seu pomar, sem qualquer adição de açúcar. Mas é preciso ter em consideração que, no processo em que se espreme a fruta, grande parte da fibra não é aproveitada, o que significa que resta apenas água, açúcar e alguma vitamina. Ora, a fibra atrasa a absorção do açúcar, que será bem mais rápida ao bebermos um sumo, comparativamente ao consumo da fruta “inteira”. Além disso, é frequente a utilização de duas ou três peças de fruta para perfazer um copo de 200 a 300 ml, o que pressupõe um consumo de quantidades de açúcar bastante elevadas! Por isso, beber sumo natural de laranja não é o mesmo que comer uma laranja!
Os alimentos isentos de glúten são (necessariamente) mais saudáveis?
O glúten diz respeito a uma combinação de proteínas presentes no trigo, cevada e centeio (podendo também estar presente na aveia). Em indivíduos com doença celíaca ou elevada sensibilidade ao glúten, quando consomem alimentos com a sua presença, existe um “ataque” às células intestinais, comprometendo a absorção de nutrientes e originando inflamação. A verdade é que o consumo de glúten deveria ser limitado aos cereais integrais, que nos fornecem vitaminas importantes e boas doses de fibra. No entanto, a maioria das substituições existentes no mercado são autênticos desastres nutricionais (bolachas, bolos, biscoitos), com alimentos carregados de açúcares, gorduras e determinados aditivos para conferir o sabor e a textura que encontramos frequentemente em produtos com glúten.
Portanto, se quer mesmo reduzir o consumo deste ingrediente, opte por alternativas inteligentes (exemplos: consumo de cereais, como a aveia, em alternativa aos que têm glúten, pão de milho em alternativa aos pães de trigo ou centeio, leguminosas em alternativa às massas com glúten), caso contrário, a emenda será pior que o soneto.
Açúcar branco, amarelo, mascavado… Mas afinal existe mesmo um açúcar “mais” saudável?
Este seria um tema que daria páginas de discussão. O açúcar de cana (branco) é refinado e constituído totalmente por sacarose (açúcar de cozinha). O açúcar mascavado preserva o melaço e, também, pequenas quantidades de vitaminas e minerais (o menos refinado). O açúcar amarelo é ligeiramente mais refinado do que o mascavado, mas semelhante, nutricionalmente. Os efeitos do consumo de açúcar de adição em excesso são bastante nocivos: doenças hepáticas, Diabetes tipo II, doença cardiovascular e até alguns tipos de cancro. Por isso, o que parece ser mais importante é reduzir ao máximo o consumo de açúcar de adição, seja ele qual for. Vá diminuindo a sua adição, seja no leite, no café ou nos doces (substituindo por canela, por exemplo), até se “desabituar” totalmente ao seu paladar. Teoricamente, até podemos afirmar que os açúcares amarelo e mascavado são melhores do que o açúcar branco, mas, diga-se de passagem, nenhum deste tipo de açúcar é importante para a nossa saúde, até porque não é a este tipo de alimento que estamos a pensar ir buscar as vitaminas e os minerais de que precisamos ao longo do dia, pois não?
Alimentos detox ajudam mesmo a desintoxicar o organismo?
É frequente vermos sumos ou batidos feitos à base de água, fruta e hortícolas a serem vendidos como autênticos milagres, quase como se anulassem todas as “asneiras” alimentares que andamos a fazer ao longo do tempo. A verdade é que as combinações presentes nestes batidos, por vezes, acabam mesmo por ter o efeito exatamente contrário ao que esperávamos na metabolização das toxinas. Além disso, a alimentação torna-se demasiado pobre em nutrientes e monótona nestes dias, conduzindo até a estados de demasiado cansaço e fadiga. Outro aspeto a ter em conta é que nós temos mecanismos que fazem esse processo de “desintoxicação”, decorrendo sobretudo ao nível do fígado e dos rins. Portanto, mais do que pensar nestes processos rápidos e milagrosos, que no fim acabam por levar à continuação de uma má alimentação e comportamentos nefastos, lembre-se de cumprir o seguinte: uma alimentação mais cuidada, em que se privilegia o consumo de fruta, hortícolas e cereais integrais, beber muita água ao longo do dia, evitar o consumo de alimentos processados e ricos em gorduras de má qualidade, açúcares e sal, prática regular exercício físico, evitar a utilização de fármacos sem prescrição médica, dormir 8 horas diariamente e… o seu detox está feito.
Artigo escrito por Dra. Juliana Guimarães, nutricionista na clínica ADCA e no blog Onde é que tínhamos a cabeça?.
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