Cresceu com os olhos postos na bonita Praia da Poça, no Estoril, e ainda hoje não há local no mundo que a faça sentir-se tão em casa. Também já viajou pelo globo à procura dos melhores sítios para surfar e reconhece na Indonésia um carinho especial, pela cultura envolvente que em muito a fascina.
Mariana Rocha Assis é surfista profissional e uma das convidadas para integrar a iniciativa de surf mais solidária deste verão: a PRIO Softboard Heroes. O evento acontece a 16 de julho, na Praia da Física, em Santa Cruz, e reúne vários atletas da modalidade com o intuito de apoiar associações portuguesas sem fins lucrativos.
Vais integrar a iniciativa solidária de surf, a PRIO Softboard Heroes. Podes falar-nos um pouco deste projeto e o que é que podemos esperar? Que importância tem para ti fazer parte?
Para mim este convite foi muito importante, não só por ter sido convidada pela Saca (Tiago Pires) – que é um dos melhores surfistas que Portugal alguma vez teve –, pelo que é uma honra ter sido convidada por ele e por ser uma pessoa que admiro tanto fez-me ficar super contente por ter sido uma das convidadas. Como é óbvio, o surf está a tornar-se num desporto mais sustentável e que se está a virar para estas causas nobres. O Saca conseguiu criar este projeto e aliar as marcas certas para apoiar as quatro associações, por isso fez aquela “coisa” que toda a gente quer. Reuniu as pessoas ideais para surfarem (os profissionais e amigos) e ainda as associações certas, por isso acho que vai ser um evento muito giro e muito divertido, porque vamos usar pranchas de softboard e tenho a certeza que vai ser risada total. A diferença destas pranchas de softboard é o facto de serem de esponja, ou seja, não são tanto de competição. São pranchas boas para nos divertirmos dentro de água e não estarmos com o mindset focado na competição.
O responsável da organização do evento partilhou que a modalidade de surf já alcançou uma dimensão notável em Portugal. Concordas com esta afirmação? Consideras que temos cada vez mais profissionais a sagrar-se na modalidade?
Concordo plenamente e, aliás, não acontece só em Portugal. O surf teve um boom gigante, um pouco por causa da pandemia, mas já vinha a acontecer porque Portugal é realmente dos melhores locais do mundo para surfar. Temos uma costa magnífica, com ondas incríveis, e não tenho dúvidas de que a dez anos se vai falar tanto (ou mais) de surf como se fala de futebol. É um desporto completamente saudável e que vai continuar a crescer cada vez mais. Temos muitos surfistas bons que até vão representar a modalidade nos Jogos Olímpicos, em Tóquio, e acho que isso também trouxe uma pujada forte à modalidade. Permitiu perceber que é possível ser atleta profissional em Portugal. O Saca foi também quem abriu este caminho e, por isso mesmo, é uma honra ter recebido este convite por parte dele, porque vemos que o caminho está a ser traçado graças a ele.
Acreditas que daqui para a frente haverá mais oportunidades e apoios, para que mais atletas possam integrar profissionalmente nesta modalidade, em Portugal?
Claro que sim! Mesmo os juniores que o Saca convidou para esta iniciativa são pessoas que eu tenho a certeza de que serão surfistas profissionais e ter bons resultados lá fora. O surf teve uma evolução gigante e hoje em dia é mais do que possível ser surfista profissional em Portugal, o que há uns anos era impossível. Atualmente, há cada vez mais marcas a apoiar e isso é incrível.
Esta já não é a primeira vez que o surf se alia a uma causa solidária e apesar de esta ter apenas o intuito de ajudar quem mais precisa, a verdade é que há cada vez mais projetos com uma vertente ecológica. Tu que te apercebes desta realidade de perto, consideras que é importante continuar a alertar para a necessidade de preservação dos oceanos?
Acho que estamos efetivamente numa fase mais positiva. Estou neste momento no Brasil e tenho vindo a reparar que não há sequer uma única palhinha de plástico nas praias e isso marca a diferença, no entanto acredito que ainda estamos longe do que é preciso. Toda a gente já tem essa consciência de que precisamos de mudar e há cada vez mais projetos nesse sentido, mas ainda não chegamos lá, porque vê-se muita poluição. Um dos patrocinadores desta iniciativa, a Corona, tem criado projetos incríveis de limpeza de praias pelo mundo inteiro e agarra nos melhores surfistas para contribuírem para essa consciencialização. Todos querem ajudar, mas de facto são poucos os surfistas que vão mesmo para a praia perderem, nem que seja, dez minutos do seu dia lá para recolherem algum lixo. Acho que essa mudança tem de ser feita por todos.
Nesse sentido, costumas associar-te a algum projeto ecológico?
Sou embaixadora de um projeto em Cascais, que é o Movimento Claro, que procura contribuir para a limpeza de praias e que vai inclusive a várias escolas para criar iniciativas incríveis com os mais novos. Fazem limpezas de praia e percebem a importância de isso acontecer e do quanto estão a contribuir para a mudança. A Câmara Municipal de Cascais forneceu uma máquina fantástica que transforma o plástico em coisas reutilizáveis. A quantidade de lixo que ainda hoje se vê continua a ser assustadora.
Gostaríamos também de conhecer um pouco do teu percurso. O surf faz parte da tua vida desde sempre? Com que idade integraste, profissionalmente, nesta modalidade?
Comecei a surfar aos oito e por volta dos dez a competir e a viajar. Foi o meu avô que me fez surfar, apesar de ele nunca o ter feito, mas como sempre vivi em frente à Praia da Poça (Estoril), ele um dia perguntou-me se eu queria ser surfista profissional. Eu disse que sim e ele motivou-me a treinar todos os dias. Entrei para a Surftechnique, do David Raimundo e do Nuno Telmo, que é ainda hoje a minha escola de surf. Tenho 24 anos e já viajei pelo mundo inteiro, mas também fiz uma coisa que é muito importante: nunca parei de estudar. Terminei a faculdade e atualmente já trabalho, porque há um dia em que o surf acaba.
E, já agora, podes contar-nos o que fazes para além de praticar a modalidade?
Tirei o curso de Marketing e Publicidade e neste momento estou a trabalhar para uma marca australiana de skates, que é a Smoothstar, e vim ao Brasil abrir a marca. Consigo aliar o melhor dos dois mundos. Se dormimos sete horas por dia, sobram-nos tantas outras para aproveitar o dia. Basta ser organizado.
O surf tem te levado a viajar pelo mundo. Em que sítio surfaste, até hoje, as melhores ondas ou que lugar não esqueces?
Um dos sítios que eu mais gosto de ir é à Indonésia. Já fui várias vezes e, sem dúvida, a vibe que se sente lá é incrível. As pessoas são muito simpáticas, as ondas perfeitas e mesmo para quem não faz surf há uma vida incrível mesmo. É um pouco contrário às Maldivas, em que se faz apenas surf. Na Indonésia dá para aproveitar muito mais e é por isso que Bali é um sítio muito especial para mim e para onde vou com muito carinho.
E cá em Portugal, há uma praia de eleição?
Claro! (risos) Cresci em frente à Praia da Poça e, para mim, é a melhor praia do mundo. Toda a gente diz que as ondas são péssimas, mas eu acho que são as melhores.
Queres deixar um convite aos nossos leitores para acompanharem a PRIO Softboard Heroes, no dia 16 de julho?
Através dos atletas que vão participar, as pessoas podem ir acompanhando pelas redes sociais. Vamos tentar que todos se sintam parte do evento, até pela situação que o país está a passar – com um aumento de casos. Não digo para virem todos para a praia assistir, mas que nos acompanhem pelas redes sociais. Vai ser um evento muito giro. Estou bastante motivada.
Maria Inês Neto
Editora
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