É nas pistas mais exigentes e a altas velocidades que Ricardo Gomes tem vindo a traçar o seu caminho, rumo ao sucesso. O piloto bracarense está em entrevista na U-FIT e conta-nos um pouco da sua história, fala-nos do quanto detesta perder e do quanto acredita que os limites são barreiras apenas mentais.
Como é que esta viagem pelo mundo do automobilismo começa?
Começa com uma grande paixão. Com a vontade de superação e de mostrar que os limites são apenas mentais. São passíveis de serem ultrapassados. Desde muito novo que tenho memórias do desporto automóvel. Do cheiro da gasolina e do roncar dos motores, muito por influência do meu avô. Foi apenas uma questão de tempo até abraçar, em definitivo, a modalidade e começar a competir. Iniciei-me nos ralis em 2010 e depois disso passei por várias modalidades do automobilismo: velocidade, circuitos, montanha e ralis.
Acredito que um piloto deve ser um atleta completo e, para isso, tem de conhecer e abraçar o maior número de modalidades possível. Todas se complementam e criam um piloto mais capaz e mais rico. Acusam-me – no bom sentido da palavra – de ser um piloto multifacetado, mas acho que é também isso que me diferencia.
Teve alguém que o influenciou a seguir este caminho? Quem é a sua maior influência neste desporto?
Há um grau de influência que dou como certo. Não tenho memórias de ouvir relatos de futebol aos domingos, por exemplo, daí, quiçá, ainda hoje não apreciar futebol. Os meus fins de semana eram passados na companhia do meu avô que estava sempre a preparar o carro ou a preparar o meu primeiro karting, com motor de corta relva (risos). Essa foi, e continua a ser, a minha referência e a minha influência. A capacidade de resiliência, de motivação, mesmo nos piores momentos, e acima de tudo apreender a nunca desistir. Foi uma excelente herança a que me deixou.
O facto de ser bracarense e, provavelmente, ter acompanhado várias vezes a Rampa da Falperra, quando era mais novo, despertou este interesse pelo desporto automóvel? Que memórias guarda desse tempo?
É uma prova incontornável, nacional e até internacional, do automobilismo. Em criança, temos o sonho e vibramos ao assistir a provas como esta. Assisti ao longo de dezenas de edições inúmeros pilotos a baterem recordes e a darem o seu melhor na Rampa da Falperra. Adriano Parlamento, Mauro Nesti, António Rodrigues, Andres Vilariño, Faustman, Franz Tschager, era como um elenco de atores que faziam parte do meu imaginário de criança. Obviamente, sempre com o sonho de um dia poder estar ali, na linha de partida, e dar o meu melhor, metro após metro. Foi de facto uma influência enorme na minha carreira.
Qual é a sensação, sempre que corre na sua própria cidade? É um regresso a casa sempre especial?
É um sentimento extraordinário. Estamos perto dos nossos e temos o apoio de todos quantos nos são importantes nesta carreira. Familiares, amigos e patrocinadores. Correr em casa é sempre um desafio adicional. Temos uma pressão acrescida, pois deveremos – ainda que em teoria – conhecer melhor o traçado que os demais. Na disputa de um campeonato deveremos saber transformar isto numa mais valia para nós.
Qual é a prova da qual mais gosta de participar e porquê?
No contexto do Campeonato de Portugal de Montanha, é a Rampa da Falperra, sem dúvida alguma. No contexto dos campeonatos de velocidade em circuitos talvez o Circuito de Vila Real, como circuito citadino, e o de Jarama, em Madrid. Ambos são fantásticos, pelo facto de estarmos próximo do público e das pessoas. São circuitos e provas onde vi mais público e este desporto só faz sentido se for assim, partilhado com o público.
Consegue mencionar uma vitória que tenha sido a mais prazerosa, até hoje?
Sim. Duas aliás. Um título conquistado no Campeonato Europeu de Montanha, em casa, na “nossa” Rampa da Falperra, na categoria em que competia – Carros de Turismo – e ouvir o hino nacional no pódio do Circuito del Jarama, em Madrid, quando competi no Campeonato Historic Endurance com pilotos de toda a Europa. São dois grandes momentos que gosto de recordar.
Tem alguma superstição antes de entrar em competição que nos queira contar?
Sou católico. Gosto de ter sempre comigo o meu crucifixo. Não sei se lhe poderemos chamar superstição, mas acredito que nunca vou sozinho dentro do carro.
A alta velocidade e com traçados muito exigentes, provavelmente já passou por vários sustos ao volante, mas houve algum momento que lhe tenha ficado na memória? Como é que lida com uma certa incerteza, nestes momentos mais desafiantes?
Este é um desporto de risco. Um automóvel de competição é composto por milhares de peças e componentes mecânicos, hidráulicos e eletrónicos. Basta que um deles falhe e tudo se complica. Temos de acreditar no carro, na equipa que trabalha connosco, dos mecânicos aos engenheiros de pista. Contudo, pode sempre haver falhas. Já tive acidentes mais aparatosos, que são os que nos ficam mais na memória. Felizmente, sem consequências para mim. A melhor forma de lidar com este tipo de situações é voltar ao volante o mais rapidamente possível e tentar melhorar, sempre.
Já venceu a categoria nas Rampas da Penha e na Serra da Estrela. Como é que está a ser, para si, este ano? Até agora, tem superado as expectativas?
Tem sido um ano de regresso à Montanha. É um campeonato que está com um ritmo muito competitivo e que exige uma aposta muito grande em termos de equipa, de preparação e, obviamente, de resultados. Confesso que sou obcecado por resultados e pela perfeição e que passo noites sem dormir a pensar qual a melhor trajetória, o ponto onde posso melhorar ou conquistar milésimas de segundo. Estamos na disputa pelo título da categoria no Campeonato de Portugal de Montanha e isso tem sido muito exigente. Tal como eu gosto.
Ainda faltam duas provas para disputar, nomeadamente na Serra da Arrábida. Pretende retomar o comando do campeonato?
Se não fosse para lutar até à última gota de suor pelo título não estaria a competir a este nível. Já demos provas da nossa eficácia no Campeonato de Portugal de Montanha este ano. Sofremos percalços mecânicos que nos atribularam as contas do campeonato. Temos duas provas até ao final que, sinceramente, só espero ganhar e tudo farei para que isso aconteça. Detesto perder.
Maria Inês Neto
Editora
previous post
B2Run: a maior corrida entre colegas de trabalho
next post