É já considerado um dos verdadeiros vilões do século XXI. E se, no passado, a nossa alimentação era predominantemente à base de hortícolas, fruta fresca, cereais integrais, sementes e frutos gordos, hoje em dia temos à nossa disposição diversos alimentos, maioritariamente empacotados e embalados, carregados de açúcar e de outros aditivos alimentares.
É o caso dos bolos, bolachas, pães-de-leite, cereais para o pequeno-almoço, barritas para os lanches, entre muitos outros. Leites adoçados com chocolate e até os sumos, supostamente à base de concentrados de fruta.
A variedade é enorme e nem estamos a contar com os famosos rebuçados, chupa chupas e gomas! É verdade, sim, que atualmente o açúcar nos entra pela casa quase sem nos apercebermos!
Mas afinal devemos abolir mesmo o consumo de açúcar ou existem quantidades seguras para o fazer?
É importante referir que quando falamos no consumo de açúcar estamos a considerar todo o açúcar que é adicionado a um produto, não fazendo parte destas contas o que se encontra naturalmente presente na fruta ou no leite simples, por exemplo. A quantidade de açúcar ideal será sempre a mínima possível. Quanto mais tarde submetermos as nossas crianças a este tipo de produtos, tanto melhor. E não se pense que são umas “coitadinhas” por nunca terem provado gomas ou rebuçados aos quatro anos, pois ninguém pode ficar triste por se privar de algo que não conhece!
Com isto, pretendo dizer que crianças até aos três anos, não devem mesmo provar qualquer alimento com adição de açúcar! A partir desta idade, existem recomendações específicas sobre quantidades seguras relativas ao seu consumo. A Organização Mundial de Saúde aponta que devem andar à volta dos 5% do valor energético total diário. Ora, numa criança entre os 4 e os 6 anos, estamos a referir-nos a cerca de três colheres de chá com açúcar (cerca de 16g). O difícil é encontrar alimentos com quantidades inferiores a isto. Uma lata de refrigerante, por exemplo, tem cerca de 35g!
Quais as consequências do consumo excessivo de açúcar?
O consumo excessivo de açúcar traz consigo vários malefícios. Seguem-se quatro motivos para a redução do consumo de açúcar em crianças:
- Aumenta o risco de desenvolver cárie dentária e erosão do esmalte. Se tem dúvidas sobre isto, saiba que em países subdesenvolvidos, mesmo com piores índices de higiene oral, a prevalência de cárie dentária é bem menor do que nos países desenvolvidos, onde se verificam elevados consumos de açúcar em crianças.
- Os alimentos ricos em açúcar são por norma mais calóricos. Sendo assim, facilmente podemos concluir que é possível consumir mais energia do que aquela que se gasta e, deste modo, desenvolver excesso de peso ou obesidade, devido ao elevado consumo de açúcar! Quando a obesidade se instala ainda na infância, mais difícil será reverter este processo na idade adulta.
- A nível metabólico, representa uma sobrecarga para o fígado: o açúcar consumido em excesso é armazenado sob a forma de gordura, aumentando o risco de doença cardiovascular e de desenvolvimento de Diabetes tipo II.
- Existe uma associação positiva entre o consumo elevado de produtos açucarados e o baixo consumo de frutas e hortícolas em crianças. Podemos assim assumir que crianças que consomem açúcar em excesso estão, na sua maioria, privadas dos benefícios deste tipo de alimentos: fornecimento de vitaminas, minerais e antioxidantes que previnem, por exemplo, o envelhecimento celular e alguns tipos de cancro.
O açúcar pode afetar o comportamento das crianças?
Neste aspeto, a evidência científica ainda não tem respostas muito claras. Na realidade, existem até dois mecanismos com efeitos bem diferentes, decorrentes do consumo de açúcar:
De um lado, temos o efeito relaxante associado ao aumento da produção de serotonina, uma hormona associada à felicidade e bem-estar, na sequência do consumo de um produto com açúcar.
No polo oposto, temos uma hipoglicémia reativa, devido a elevados níveis de açúcar, promovendo também um aumento de insulina como resposta. Os níveis de açúcar vão baixar de forma drástica, podendo provocar efeitos de irritabilidade e diminuição dos níveis de concentração e de desempenho escolar.
Talvez na questão do comportamento, a culpa nem seja necessariamente do açúcar. Na realidade, muitos produtos açucarados têm também alguns aditivos alimentares, esses sim, com efeitos hiperativos demonstrados em crianças. Por outro lado, algumas bebidas açucaradas trazem consigo cafeína.
Falamos, por exemplo, de extratos à base de chá ou cola. O consumo destes produtos está associado a um aumento dos níveis de adrenalina, que por sua vez é considerado um estimulante e, em crianças, se associa a défices de atenção e síndrome de hiperatividade.
Percorra a galeria para conhecer exemplos das quantidades de açúcares presentes em alguns alimentos:
Este artigo foi escrito pela Dra. Juliana Guimarães, nutricionista na clínica ADCA e do blog Onde é que tínhamos a cabeça?
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