Enquanto ficamos em casa, há um mundo lá fora por descobrir. Foi esta premissa que levou Paula Carvalho, autora do blog “While You Stay Home“, a largar tudo e sair da sua zona de conforto. Aos 27 anos, a aventureira do norte embarcou sozinha numa viagem, onde ao longo de quatro meses contornou as paisagens únicas do Continente Asiático. Passou pela Índia, Tailândia, Camboja, Vietnam e foi em Myanmar que vivenciou as melhores experiências, que a fizeram desejar retornar novamente.
Assim surgiu a ideia de voltar a Myanmar, mas desta vez a pedalar por entre os majestosos templos e pela serenidade e beleza da paisagem à sua volta. Acompanhada por uma bicicleta portuguesa que tem a particularidade de ser dobrável – Ympek Surfing – o que permite explorar muito mais de cada cidade, Paula partilha diariamente as suas aventuras no blogue.
No início de uma nova e emocionante aventura, Paula confessa: “Espero que seja inesquecível e inspiradora, para que outros possam ver o que uma experiência destas nos pode dar e que não se equipara a nenhum bem material. Quem sabe, ainda se aventurarem também a explorar o mundo”.
Fomos conhecer melhor a experiência de Paula Carvalho e deixamo-nos inspirar pelas suas vivências, aventuras e desafios por entre locais pouco ou nada vulgares. E o melhor desta viagem é, provavelmente, permitir que todos embarquem consigo e descubram os recantos mais escondidos e encantadores deste mundo.
“Foi, sem dúvida, a melhor decisão de minha vida”, Paula Carvalho.
Este ano embarcaste numa aventura sozinha. O que te levou a tomar essa decisão?
A decisão foi tomada tendo como inspiração o filme “Comer, Orar, Rezar” e surgiu da simples pergunta: porque não? Acredito que o facto de não estar satisfeita com o trabalho que estava a fazer, também me influenciou, inconscientemente, a fazer algo de diferente e a interiorizar que a vida tem de ser mais do que a rotina a que nos habituamos. Tudo começou com uma simples pesquisa sobre os países mais baratos para viajar enquanto via o filme. A partir daí, a pesquisa evoluiu de um modo que me levou a concluir que fazer uma viagem dessas seria economicamente viável para mim.
Qual era o teu maior receio de viajares sozinha ao longo de 4 meses?
Nunca tinha viajado sozinha antes, mas o que mais me assustava era o mesmo o facto de o fazer na Índia. Em relação aos outros países não estava apreensiva, mas como a Índia tem uma reputação tão má relativamente ao tratamento que dão às mulheres, todas essas ideia pré-concebidas faziam-me ter receio de estar no país sozinha. Tinha medo de me envolver em alguma situação perigosa e não saber lidar com ela.
Como foi descobrir o Sudeste Asiático? Se pudesses escolher uma das melhores experiências que viveste, qual seria?
O Sudeste Asiático é uma realidade bem diferente da nossa. Tudo é diferente e viajar de “mente aberta” é muito importante para aceitar as diferenças. Tenta-se imaginar como pode ser, mas vivenciar esta zona do mundo é bem melhor do que imaginar como será. Aprende-se a ser mais simples, a dar mais valor ao que temos e como vivemos, a não queixar de coisas insignificantes e aprende-se, também, que afinal não precisamos de tudo o que achamos que é preciso para sermos realmente felizes.
O meu país favorito foi o Myanmar por ser tão diferente e único. A Índia também o é, mas sobre o Myanmar sabemos muito pouco, o que faz com que tudo seja uma descoberta. Aqui vivi muitas coisas que me fizeram apaixonar pelo país, daí estar de volta. Em sítios onde os locais não estão habituados a turistas é ainda mais único, pois todos te cumprimentam com o maior sorriso na cara. Diria que as melhores experiências vividas foram mesmo aquelas em que a interação com os locais é mais próxima, como por exemplo andar de comboio em Myanmar.
Voltaste a Myanmar, mas desta vez com uma bicicleta. Como é que surgiu essa ideia e como descreves o país?
A ideia surge mesmo por ter sido das minhas coisas favoritas durante esses 4 meses. Dei por mim, naturalmente, a dizer em relatos sobre a viagem a amigos, que o meu sonho era andar no Myanmar de bicicleta por todo o lado. Só depois de o repetir várias vezes tomei consciência de que era mesmo isso que queria fazer, mas como me parecia muito difícil achava que estava só a dizer isso da boca para fora. Tal como da primeira vez em que só acreditei realmente no que ia fazer quando comprei a viagem. Até me lembrar que fazer é acontecer e pus mãos à obra para tentar entender se seria possível, nunca acreditando genuinamente que iria acontecer.
O país é bem simples e só me lembro de sorrir o tempo todo e ser totalmente feliz lá. Por ser pouco turístico, devido a ter estado fechado ao turismo até há poucos anos atrás, o Myanmar ainda é muito genuíno e único. Acredito que não exista outro país igual ou semelhante.
Estás neste momento numa nova aventura. Como está a ser toda a experiência? Superou as espectativas que tinhas?
Cheguei ao meu destino no Myanmar – Mandalay – no dia 23 de Novembro e já aconteceu tanta coisa. Tinha gostado da cidade na primeira vez que visitei, mas voltar de bicicleta proporcionou-me outras experiências que não tinha vivido. Uma delas foi ir de bicicleta de Mandalay até à ponte U-Bein, que fica a cerca de 13 km do hostel Ostello Bello, onde fiquei hospedada. Demorei cerca de uma hora e meia a pedalar até lá e foi a melhor coisa que podia ter feito. Fui sozinha por entre vilas, onde se vê que não têm contacto com turistas, até porque não há ninguém a ir até a esta ponte de bicicleta. Fui o caminho todo com um sorriso na cara, pois a cada minuto tinha de cumprimentar as pessoas que cruzava e que se riam de uma forma muito tímida e genuína assim que lhes acenava.
Voltei a Mandalay Hill, um dos pontos mais turísticos da cidade, onde encontrei um monge que me acompanhou até ao topo da escadaria enquanto púnhamos em prática o seu Inglês. Tão simpático! É tão bom ser acolhido assim, de certa forma sentes-te especial. O staff do Hostel é impecável e muito simpático. Eles, sim, são um ponto fulcral para gostar mais ainda desta cidade e já querer voltar outra vez. Está, sem dúvida, a superar as expectativas e só agora começou.
Quais são os próximos planos para a viagem?
O plano será visitar de seguida o Lago Inle, onde estou agora, Bagan, a minha cidade favorita, e descobrir duas novas cidades: Mindat e Mrauk-U. No entanto, sei que este plano pode mudar. Gostaria de continuar a viajar de bicicleta, mas só o tempo dirá o que vai acontecer. Até porque não tenho financiamento para tal.
É uma experiência que aconselharias às pessoas, tanto o facto de viajares sozinha como o tipo de viagem em si?
Sem dúvida! Viajar sozinha é descobrir que és capaz de bem mais do que achas que consegues, descobrir que os nossos limites são bem maiores do que imaginamos, é descobrires-te, descobrir o mundo e a felicidade. O tipo de viajam que entra mais em contacto com a cultura local é o meu favorito, acho muito enriquecedor e abre os nossos horizontes.
O que mudou na tua vida e o que “ganhaste” desde que partiste nesta aventura?
Tudo mudou! Já não tenho uma vida dita “normal”, faço o que quero e não há julgamentos da sociedade por vestir assim ou fazer “assado”. Na realidade sou uma pessoa mais livre, feliz. É o que mais me importa: ser feliz. Ganhei a nível interior algo sem valor monetário. Ganhei memórias para a vida e histórias emocionantes para partilhar, tal qual num livro que lemos e nos inspira. Foi, sem dúvida, a melhor decisão de minha vida, para já.
Acompanhe toda a aventura no blog “While You Stay Home” de Paula Carvalho e nas redes sociais.
Maria Inês Neto
Editora
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